terça-feira, fevereiro 23

A força do exemplo e regulação humana

por JOÃO PEDRO GUIMARÃES

Qual a receita para termos um mercado que funcione melhor?

Num livro intitulado "Nudge: Improving Decisions About Health, Wealth and Hapiness", de Richard H. Thaler e Cass R. Sunstein, pode ler-se o seguinte (em tradução livre):

No Estado do Minnesota, a propósito do cumprimento de leis fiscais, realizou-se a seguinte experiência: Juntaram-se 3 grupos de contribuintes a quem foi dada diferente informação:


• Ao primeiro grupo referiu-se que os seus impostos iriam para variados fins de interesse público, tais como educação e protecção civil;

• O segundo grupo foi ameaçado com os riscos da pena por incumprimento e finalmente;

• Ao terceiro grupo foi explicado que 90% dos habitantes do Estado já cumpriam, integralmente, com as suas obrigações fiscais.


Constatou-se, nas conclusões, que apenas uma destas informações havia tido efeito positivo sobre o cumprimento das obrigações fiscais e foi a última...Penso que esta experiência demonstra claramente, por um lado, a força do exemplo e, por outro, que tudo radica no comportamento humano, muito mais do que na imposição coerciva de regras e na aplicação de penas.

Sendo assim, importa perguntar, quando tanto se fala de regulação, o que se deve então regular? Esta questão é abordada de forma curiosa, por Paul Craig Roberts num artigo intitulado "Markets fail when humans are unregulated" (os mercados falham quando os humanos não são regulados).

Na prática, defende o autor, a questão da regulação não se deve centrar na tradicional discussão sobre a eficiência de mercados mais ou menos regulados, mas sim no comportamento dos homens.

Os mercados são instituições sociais e, por isso, quando se fala das decisões dos mercados aquilo que está verdadeiramente em causa é o poder de decisão humano.Os mercados não actuam, nem tomam decisões. São as pessoas que neles trabalham que agem e decidem e os mercados, no fim do dia, reflectem, precisamente, essas acções e decisões. Por esta razão, entende Paul Roberts, o actual debate à volta da regulação não está bem orientado. Se o objectivo é atingir um mercado que funcione melhor o essencial é regular o comportamento humano.

Em última análise, humanos não regulados (ou melhor, desregulados) tenderão sempre a utilizar meios legais para fins ilegítimos. Na prática, não deixarão de existir Maddofs, qualquer que seja a regulação. Assenta pois no comportamento humano a base de sustentação da sociedade em que vivemos. Aquilo a que temos de aspirar é à criação de uma sociedade que postule e defenda valores éticos primordiais que se imponham sobre todos os outros.

Nas empresas, esta realidade deverá exigir uma lógica de auto regulação interna virada para a promoção desses mesmos princípios.

Se existirem nas pessoas, não deixarão de se manifestar naquilo que fazem.

Sabemos que ninguém é perfeito. Mas sabemos também, como a experiência do Estado do Minnesota nos ensina, que o exemplo da maioria tende a ser seguido por todos. Se o exemplo da maioria for positivo, estaremos no bom caminho. E isso é o que é fundamental assegurar.
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João Pedro Guimarães, Administrador da ESAF
Fotografia: Gary Faye

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