O momento mais fecundo da contínua metamorfose de cada suposto "ser" - indivíduo, povo ou nação - é o seu declínio: a revelação da autocontradição que desde o início e constantemente o move (cf. Heraclito e Hegel sem a deriva teleológica), a revelação das suas mais fundas e inéditas possibilidades. Porque um declínio é sempre o de uma forma ou modo de ser e logo a libertação dos possíveis que essa mesma forma ou modalidade encerra. Para nós, além das nossas próprias vidas, o exemplo mais evidente é Portugal.
Portugal nasceu, desenvolveu-se, expandiu-se e declinou sob o signo da violência contra o outro: leonês, castelhano, árabe, indígenas colonizados. Esse ciclo terminou em 25 de Abril de 1974 e nele um Portugal morreu. Desde então até agora estamos num Limbo, sem poder ser aquilo que estávamos habituados a ser e sem vislumbrar outra alternativa senão a ausência de alternativas do produtivismo-consumismo europeu-ocidental.
Este Limbo é a possível sementeira de um Outro Portugal. Um Portugal solidário com tudo e todos, um Portugal-solidariedade, um Portugal armilar, um Portugal-Universo. O que jamais será o Portugal do Estado ou da sociedade portugueses, mas sim o Portugal alternativo gerado pela comunidade dos portugueses despertos. É a Hora de dar à luz esse Portugal!
Autor: Paulo Borges
Fonte: Outro Portugal
Nota: Paulo Borges é Professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde trabalha nas áreas de Filosofia da Religião, Filosofia em Portugal e Antropologia e Cultura e integra o projecto de investigação “A Filosofia e as Grandes Religiões do Mundo”. Membro e investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, onde coordena o projecto “Agostinho da Silva: estudo do espólio” e integra os projectos “A questão de Deus. História e Crítica” e “Arte e Religião”. Doutorou-se em 2000 com uma dissertação sobre Metafísica e Teologia da Origem em Teixeira de Pascoaes.
2 comentários:
Parece impossível que alguém pense isto!
Pois parece. Deve ser Outro!
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