domingo, fevereiro 28

As crianças e a televisão: Idade e quantidade


Pode ser tentador entreter o seu bebé diante do ecrã (e note-se que ecrã inclui não só a televisão, mas também DVD, jogos de vídeo, etc.), mas a American Academy of Pediatrics recomenda peremptoriamente: "Não o faça!"
A televisão representa para as crianças a mesma atracção que para os adultos: o mundo maravilhoso das descobertas, de poder conhecer realidades longínquas, histórias fantásticas e culturas diversas, sem sair do lugar. Logicamente que programas adequados, que transmitem ideias positivas, podem trazer algum benefício aos nossos filhos, mas não podemos esquecer que o contrário também é bem verdade e que nem sempre as mensagens que a televisão passa são aquelas que, como pais, gostaríamos de transmitir.
Além disso, se nos preocupamos e controlamos o que as nossas crianças comem, quanto tempo dormem, com quem brincam, não devemos controlar também quanto e quando vêem televisão?
Devemos estar conscientes que a televisão, pela importância que adquiriu nos dias de hoje, desempenhando um papel central e ocupando um lugar de destaque na vida da maioria das famílias, pode afectar a saúde da criança.
Antes de mais, aos papás que se preocupam com os riscos e benefícios que a televisão traz aos seus filhos, importa esclarecer desde já que a televisão, só por si, não induz qualquer problema de visão, mesmo quando está muito próxima da criança. De qualquer forma, ver televisão não é uma actividade inócua, e, dependendo da idade da criança, as recomendações são variáveis, de modo que cada criança aproveite só o melhor que a televisão tem a oferecer.

Até aos 2 anos
Os dois primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento da criança. Mesmo com a programação desenvolvida e dirigida especificamente para esta faixa etária, os especialistas mostram grandes reservas, em particular nos casos em que há marcas de brinquedos, jogos ou outros produtos envolvidos. Foi levantada também a hipótese de existir uma relação entre a televisão em idades precoces e o desenvolvimento posterior de PHDA (perturbação de hiperactividade e défice de atenção), embora alguns especialistas da área não concordem e não haja nenhum estudo que comprove esta relação. Está ainda aberta a questão quanto ao potencial impacto positivo que a televisão possa ter nesta idade, enquanto os benefícios da relação entre os pais e filhos estão bem estabelecidos. Portanto, abaixo dos 2 anos, falar, cantar, ouvir música, jogar, ler e brincar são de longe actividades muito mais importantes do que qualquer programa de televisão. Pode ser tentador entreter o seu bebé diante do ecrã (e note-se que ecrã inclui não só a televisão, mas também DVD, jogos de vídeo, etc.), mas a AAP (American Academy of Pediatrics) recomenda peremptoriamente: "Não o faça!"

A partir dos 2 anos
A partir desta idade, e até à adolescência, as recomendações dos especialistas não são tão veementes e a regra deve ser o bom senso. Alguns estudos mostraram até que em crianças entre os 3 e os 5 anos, devidamente doseado e com programas seleccionados, ver televisão pode melhorar discretamente a performance de leitura. No entanto, se o seu filho perder demasiadas horas diante do ecrã, em detrimento de outras actividades, como a leitura (a ler ou a lerem-lhe) ou a música, isso poderá afectar as suas capacidades cognitivas, uma vez que ver televisão é uma actividade muito mais passiva que exige muito menos do cérebro.
É inegável que a televisão, expondo os conteúdos certos, é um excelente meio de entretenimento e de educação, alargando horizontes e mostrando coisas às quais sem elas muitas pessoas nunca teriam acesso.
Segundo a AAP, as crianças desta idade não deveriam ver mais do que 1 a 2 horas de programas de qualidade por dia, pois os riscos de ver muita televisão são bem conhecidos e estudados: obesidade, alteração dos padrões de sono, violência e agressividade, comportamentos de risco, estereotipagem (muitas vezes de forma errada) racial e dos papéis de género.

Joana Dias,com a colaboração de Augusta Gonçalves, pediatra do Hospital de São Marcos em Braga.
Fotografia: Chris Stein

0 comentários:

Enviar um comentário