Já têm um nome: geração Ritalina.
O grande aumento no consumo destas substâncias verificou-se em 2004, quando a venda destes medicamentos deixou de pertencer ao domínio das farmácias de certos hospitais e passou a fazer-se em qualquer farmácia.
A prescrição de medicamentos para tratamento da Perturbação da Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA) aumentou, em todo o mundo, 274%, entre 1993 e 2003. O número de países que começaram a recorrer a este tipo de drogas subiu de 31 para 55. Os dados foram publicados no jornal americano Health Affairs. Uma em cada 25 crianças e adolescentes norte-americanos estão a ser medicamentado para PHDA.
Calcula-se que em Portugal entre seis e oito mil crianças e adolescentes estejam a tomar este tipo de medicação (números de 2006, com base nas vendas). Em 2004, estimava-se que três mil crianças tomassem medicamentos para PHDA, enquanto que em 2003 eram apenas 400.
Revista Pais & Filhos, edição de Maio de 2007, pág. 102
Há quem não acredite nisto. Transcrevemos de seguida a entrevista que a ArtSeenChicago fez a Ken Robinson, sobre este tema. Se quiser visualizar em vídeo o discurso que Ken Robinson fez no TED, abordando ainda o tema da criatividade, está em destaque, no lado direito desta página, legendado em português,
Há quem não acredite nisto. Transcrevemos de seguida a entrevista que a ArtSeenChicago fez a Ken Robinson, sobre este tema. Se quiser visualizar em vídeo o discurso que Ken Robinson fez no TED, abordando ainda o tema da criatividade, está em destaque, no lado direito desta página, legendado em português,
Fonte: ARTseenChicago
Sir Ken Robinson é um líder internacionalmente reconhecido na área do desenvolvimento da criatividade, em inovação, educação e recursos humanos. Trabalhou com governos nacionais na Europa e na Ásia, com agências internacionais, empresas da Fortune 500, organizações sem fins lucrativos e algumas das organizações culturais mais sérias do mundo. Durante dez anos, foi Professor de Educação na Universidade de Warwick em Inglaterra e é presentemente Professor Emeritus.
Sir Robinson foi convidado pelo Columbia College como orador durante as Founders Lectures na terça-feira, 2 de Dezembro de 2008. Entrevistei-o pouco antes de subir ao palco.
Elizabeth: Fale-me por favor sobre a definição tradicional de sucesso na educação universitária e de que forma a criatividade é muitas vezes descurada, quando seguimos os valores tradicionais de educação.
Sir Ken Robinson: Se pensarmos na cultura dominante da educação e nos perguntarmos em que é que temos que ser bons nessa cultura para termos sucesso, teremos de concluir que todo o sistema de educação pública tem como intenção produzir professores universitários. Não creio que seja intencional. A cultura intelectual da educação baseia-se num certo tipo de capacidade académica, do tipo do qual as pessoas que ensinam nas universidades gostam particularmente. Se perguntar ao estudante típico o que faz na escola, ele responder-lhe-à que passa muito do seu tempo escrevendo ensaios e análises e praticando certo tipo de matemática. Existe uma ênfase muito maior num certo tipo de pensamento analítico. As pessoas falam nos académicos "nucleares". Todo o interesse é na capacidade académica e na minha opinião, capacidade académica tornou-se um sinónimo de inteligência e realização. É típico de um certo processo intelectual.
E: Será que este modelo de sucesso se deve ao facto de os professores procurarem nos alunos o mesmo tipo de processo intelectual que eles próprios possuem?
SKR: Não penso que seja acidental. Penso de que se trata de uma história. História essa enraizada na formação do sistema de educação dos séculos XVIII e XIX e com muita influência pela cultura da Iluminação. Numa fase inicial deste processo, as Universidades procuraram exercer influência na cultura da educação. Penso que seja mais ideológico do que acidental..
E: Um dos exemplos que utiliza para ilustrar a mente criativa é o de uma menina que foi uma força desequilibradora na sala de aula. Essa menina tornou-se uma coreógrafa muito famosa, quando atingiu a idade adulta. Os pais e a escola procuraram a ajuda de um psicólogo, porque a menina não progredia no ambiente escolar. Durante uma reunião com a família, o psicólogo pediu aos pais para saírem do gabinete com ele, deixando a menina sozinha lá dentro. Antes de sair, o psicólogo ligou a rádio numa estação com música. O psicólogo pediu aos pais para espreitarem pela pequena janela do gabinete e lhe relatarem o que a menina estava a fazer.
“Está a dançar,” disseram eles.
“Sabem porque é que ela está a dançar?” perguntou o psicólogo.
“Ela está sempre a dançar,” responderam os pais.
“Ela está a dançar, porque é uma dançarina,” retorquiu o psicólogo.
SKR: A escola reportou que ela tinha uma dificuldade de aprendizagem porque não conseguia ficar quieta ou prestar atenção. O psicólogo escolhido pela mãe era fantasticamente empático. Foi ele que disse, ela não está doente, ela é uma dançarina. Levem-na para uma escola de dança. Ele estava a exemplificar de que há outras formas de se ser inteligente. Julian Lyne (a coreógrafa agora famosa) disse-me que tem de se mover para conseguir pensar. A minha mulher é assim. Detesta ir ao teatro, porque tem de ficar sentada durante duas horas. Isso enlouquece-a. A educação que temos é pensada para pessoas que gostam de estar quietas.
E: Na vida empresarial, penso que existe um respeito crescente pela pessoas criativas, mas estas pessoas são ainda controladas por quadros superiores. As pessoas que ganham os maiores salários, não são pensadores out-of-the-box (que pensam fora do quadrado). Acha que existe um muro impenetrável entre os criativos e aqueles que têm os cargos mais altos e ganham mais dinheiro?
SKR: Em primeiro lugar, não se pode generalizar a vida empresarial. Se vir empresas como a Pixar, a Google ou a Apple, ou pensar em algumas das empresas líderes na área do design e arquitectura. Estas empresas têm culturas extraordinárias, mas a Procter & Gamble e a GE também as têm. Alguns dos CEOs (Directores-Gerais) destas empresas são pessoas fantasticamente criativas. É necessário muito para dirigir uma empresa de vários biliões de dólares e mantê-la a avançar. Penso que parte do problema é que temos tendência para caricaturar a criatividade e associá-la a um certo tipo de actividade. As empresas fazem isso o tempo todo. Acham que a criatividade tem principalmente a ver com publicidade, marketing ou design. Tenho concentrado muito do meu trabalho em redefinir e recalibrar a ideia que existe sobre a criatividade e a mente criativa. As pessoas pensam que a criatividade tem a ver com coisas especiais ou pessoas especiais, o que é verdade, mas existem muitas outras formas de se ser criativo. Se olhar para algumas das grandes empresas como a Apple ou a Google, eles são muito criativos a desenvolver produtos. A Walmart é uma empresa muito maior e nunca desenvolveram produto algum. A criatividade desta última vê-se na gestão dos sistemas de distribuição (supply chain management). Depois existem outras empresas como a Starbucks, que não inventaram o café, mas inventaram uma cultura do café particular. São todas exemplos de diferentes abordagens criativas e de inovação. Mas considero que existem empresas que tendem a colocar as pessoas criativas numa espécie de gueto. Por vezes estas pessoas conseguem chegar a cargos superiores, mas muitas vezes por esforço próprio. Acontece frequentemente que pessoas que estão nos sectores criativos, artes, design, etc., não querem andar a dirigir as empresas. Não é essa a sua capacidade nem a sua mente está vocacionada para tal. Isto faz parte do meu argumento: para se poder dirigir uma grande empresa, quer seja um negócio, uma escola ou uma família, tem de haver diversidade. Uma das minhas objecções à educação actual é que tem a tendência de homogeneizar tudo. É por este motivos que crianças, que podem muito bem ser brilhantes, estão a ser anestesiadas com medicamentos para a Síndrome da Hiperactividade. Tem tudo a ver com conformidade e algumas crianças não se adaptam ao molde. Estou muito céptico sobre a prevalência desta síndrome. Não estou com isto a dizer que não exista. Claramente, existem crianças que têm um problema real. Mas não sou médico e por isso não me sinto qualificado para dizer que tal síndrome existe ou não. Penso é que está a ficar fora de controlo. Penso que estamos a medicar todo o tipo de pessoas que pensam de modo diferente. Em Janeiro vou publicar um livro entitulado The Element: How Finding Your Passion Changes Everything (O Elemento: Descobrir a sua Paixão Pode Mudar Tudo). O livro está cheio de histórias de pessoas que realizaram coisas grandiosas de forma criativa. Nem todos são conhecidos, mas a maior parte é. penso que nunca teríamos ouvido falar dessas pessoas se tivessem tomado Aderol ou Ritalin nos anos 70 e 80. Muitos deles empurraram o sistema. Fico revoltado. Sim, talvez algumas crianças tenham situações clínicas, mas todas as pessoas com quem falei sobre este assunto, inclusivamente médicos, me dizem que a tendência para medicar crianças, só porque perturbam ligeiramente as aulas ou não prestam atenção suficiente ou porque estão distraídos, ou aborrecidos ou, de forma geral, não acompanham os programas, está a espalhar-se como um incêndio florestal. Nos anos 80 existem 500.000 crianças com esta síndrome, mas em 2008 o número atingiu os 8 milhões. É uma indústria de três biliões de dólares em medicamentos. É como a depressão. As farmacèuticas não estão a tentar curar a depressão. Uma vez reconhecida a condição, começa a alastrar por todo o lado. Não acredito nisto. Acredito que imensas crianças estão a tentar expressar uma forma de energia criativa e vibrante que não está a ser canalizada. Conheço imensas pessoas que nada estariam a realizar agora, se tivessem sido medicadas enquanto crianças.
Uma destas pessoas é Mick Fleetwood. De certeza que teria sido medicado com Aderol, porque estava constantemente a extrair ritmos de tudo. Odiava a escola. Mais tarde descobriram que era disléxico. Andava zangado e frustrado e suplicou aos pais que o deixassem largar a escola com a idade de 16 anos e eles deixaram. Tudo o que ele quis alguma vez fazer foi tocar bateria. O pai teve o bom senso de lhe comprar uma e, aos 16 anos, ele partiu para Londres para viver com a sua irmã e instalou a bateria numa garagem. O pai, que era um poeta, escreveu um poema sobre ele. O último verso era: He set off to conquer the world with two sticks and a drum. (Partiu para conquistar o mundo com dois pauzinhos e um tambor). Duas vezes ficou no Rock and Roll Hall of Fame (Quadro de Honra do Rock and Roll). Fleetwood Mac vendeu milhões de álbuns. São uma das bandas mais bem sucedidas da história. Aos 16 anos teve a sua primeira oportunidade numa banda de blues. O que quero dizer é que, se estes medicamentos já existissem, os médicos tinham-no medicado.
E: Penso que o Columbia tem muitas crianças que cabem nessa categoria. Querem ir atrás de carreiras criativas, mas provavelmente não se deram bem com as disciplinas académicas nucleares.
SKR: Sujeitamos as crianças a todo o tipo de disciplinas académicas, quer tenham ou não interesse ou capacidade para elas. Isto não quer dizer que não devam ser expostas a estas disciplinas, mas resisto à ideia de que existem disciplinas nucleares e outras irrelevantes. As pessoas realizam-se ao nível mais alto quer seja nas artes quer nas ciências. Não acredito que existam disciplinas académicas. Apenas processos académicos.
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