quinta-feira, abril 15

Mantenha a mente tranquila e liberte-se da avidez: seis preceitos de higiene psicológica

Mais uma contribuição da ESMTC.

Mantenha a mente tranquila e liberte-se da avidez: Seis preceitos de higiene psicológica

Cultivo da mente
O cultivo da mente é uma parte importante na preservação da saúde segundo a teoria da Medicina Tradicional Chinesa. Esta considera que os estados perturbados da mente são responsáveis por um grande número de doenças, uma vez que facilmente alteram o funcionamento normal da energia corporal (Qi) responsável pela dinamização e controlo dos órgãos fisiológicos.
O cultivo da mente visa a manutenção da saúde física e psicológica, bem como o prolongamento da vida, através do controlo do espírito, da consciência e do pensamento: devemos conservar uma mente tranquila e regular cuidadosamente as actividades emocionais.

Conservar uma mente tranquila
Isto significa conservar a mente sossegada e em paz e utilizá-la racionalmente. Esta é a principal técnica para manter uma mente firme e saudável e inclui os seguintes três aspectos:

a) Manter-se livre da avidez e de fantasias selvagens
b) Olhar mas não ver; Escutar mas não ouvir
c) Concentração da mente

Regular cuidadosamente as actividades emocionais
Regular cuidadosamente as actividades emocionais significa manter um estado de ânimo positivo, controlando as emoções à medida que se sucedem os diferentes estímulos vindos do exterior, de forma a manter o equilíbrio das actividades mentais. De acordo com a MTC Preventiva e de Reabilitação isto divide-se em três partes:

1. Cultivar um temperamento gentil e agradável
2. Observar as Regras da Natureza e seguir os Costumes
3. Regular as Sete Emoções

Conservar uma mente tranquila
Isto significa conservar a mente sossegada e em paz e utilizá-la racionalmente. Esta é a principal técnica para manter uma mente firme e saudável e inclui os seguintes três aspectos:

Manter-se livre da avidez e de fantasias selvagens
Lao-Tse recomendou “estar livre da avidez e de fantasias selvagens” (Capítulo 19 do Clássico sobre a Ética) e o Clássico da Medicina Interna recomenda “ manter uma mente pacífica e sem cuidados e libertar-se de desejos impróprios “ (Capítulo 1 das Questões Simples) como forma de prolongar a vida.
Para isso, cada um se deve convencer através do raciocínio, compreendendo bem e por si mesmo os prejuízos que o apego excessivo aos desejos pode provocar ao corpo humano. Ji Kang, que viveu há cerca de dois mil e quinhentos anos, escreveu no seu Tratado sobre a preservação da saúde que “ se uma pessoa mantém uma mente clara e tranquila, abstendo-se de desejos impróprios e compreendendo que fama e posição irão prejudicar a sua virtude, então não as procurará (de facto) em vez de apenas tentar suprimir as suas aspirações (sem o conseguir) “. Não basta tentar suprimir os desejos perturbadores: é necessário cultivar os valores éticos positivos de forma a mudar realmente a sua visão do mundo.
Estar livre de avidez e de fantasias selvagens permite uma atitude equilibrada em relação aos ganhos e perdas pessoais e ficar a salvo dos “seis males”: desejo excessivo de fama e de riqueza; de sexualidade e divertimento; de ouro, prata e outros tesouros; de comidas deliciosas; lisonja e arrogância; inveja e ciúme. Cada um dos “seis males perturbam a mente gerando vários tipos de ansiedade que impedem a mente de estar sossegada e em paz”. Os aborrecimentos e nervosismo daí resultantes perturbam a energia vital e esta o funcionamento dos orgãos, daí resultando um envelhecimento precoce ou mesmo o aparecimento de doenças graves.

Olhar mas não ver; Escutar mas não ouvir
Para manter a mente estável é necessário evitar as irritações prejudiciais que o mundo externo pode exercer sobre ela. Olhos e ouvidos são os principais veículos de penetração das irritações exteriores e as suas funções, segundo a Medicina Tradicional Chinesa, são controladas pela mente e reflectem-se sobre ela. Zhuangzi, do Período dos Reinos Combatentes, advogava uma restrição do olhar e uma censura do que os ouvidos ouviram, de forma a manter a paz de espírito. Esta precaução é particularmente importante numa época como a actual, em que os meios de informação exibem constantemente conteúdos chocantes e a conflitualidade social atinge níveis elevados. Assim Sun Simiao, no seu livro Prescrições essenciais para emergências valendo milhares em ouro escreveu:
“A chave para a preservação da saúde nos idosos baseia-se em restringir a audição de coisas impróprias, as palavras violentas, os movimentos irracionais e os pensamentos preocupados com o futuro”.

Concentração da mente
Para uma mente sã não basta a tranquilidade. É também necessário usá-la racionalmente, nomeadamente fixando a atenção e concentrando-a numa só coisa de cada vez. Cao Tingdong, da dinastia Qing, nos seu Conhecimentos Básicos de Gerontologia, afirma:
“Ao usar a mente evitar dirigi-la para mais de uma coisa: de outra forma a atenção será divergente resultando em desequilíbrio por excesso de esforço. Só a concentração da mente pode evitar o stress mental apesar da sua utilização, porque a atenção está fixa e as actividades mentais concentradas”.
Assim, manter a mente tranquila e sossegada (na acção) requer a abstenção de ideias egoístas ou sobre si mesmo e de considerações pessoais.
Como o ser humano vive em sociedade, a mente recebe todo o género de estímulos: é difícil atingir a completa quietude mental. Juntamente com esta é necessário cultivar a vitalidade em movimento, de acordo com o princípio de “ a quietude ser o fundamento do movimento e de o movimento ser usado para ficar estático”. A concentração da atenção no trabalho e no estudo pode ajudar a ter uma mente estável, afastando os desejos de fama e riqueza geradores de ansiedade.
Depois do trabalho ou do estudo manter a mente fixa numa actividade, numa arte, num poema, numa pintura, numa flor, nas plantas, cheio de interesse e com atenção concentrada, o que afasta todas as perturbações, também ajuda a resolver as dificuldades mentais. É a isto que se chama o método de “ criar a quietude em movimento “.

Regular cuidadosamente as actividades emocionais
Regular cuidadosamente as actividades emocionais significa manter um estado de ânimo positivo, controlando as emoções à medida que se sucedem os diferentes estímulos vindos do exterior, de forma a manter o equilíbrio das actividades mentais. De acordo com a MTC Preventiva e de Reabilitação isto divide-se em três partes:

Cultivar um temperamento gentil e agradável
Um temperamento gentil e agradável, um espírito elevado e optimista, são conquistas fundamentais na vida e elementos indispensáveis para manter a saúde, prevenir a doença, e prolongar a vida. Por esta razão, os especialistas da Medicina Preventiva da MTC sempre enfatizaram que o cultivo dum estado de ânimo positivo é a mais forte garantia duma boa saúde, dentro das limitações constitucionais de cada um.
Para esse efeito, é necessário cultivar uma ética nobre, ideais e valores elevados, “evitar a ansiedade, a fúria, a tristeza, os traumas, as conversas e os risos desnecessários, a impaciência na satisfação dos desejos e o acalentar prolongado de sentimentos de ódio” (Prescrições essenciais para emergências valendo milhares em ouro, Sun Simiao, Dinastia Tang).
“Mesmo que alguma coisa quase o faça zangar, deve pensar se o que é mais importante é essa “alguma coisa” ou a sua saúde: num instante o problema desaparecerá”. (Conhecimentos Básicos de Gerontologia, Cao Tingdong, Dinastia Qing).
Sun Simiao disse-o bem: “A vida só vem uma vez até ao homem e o passado não volta mais: porque não controlar as sete emoções e cultivar o temperamento para se proteger contra as doenças?” (Prescrições essenciais para emergências valendo milhares em ouro, Sun Simiao, Dinastia Tang).
Desta forma, a mente não perturba a energia e esta pode controlar harmoniosamente as funções fisiológicas. Os idosos, em particular, devem evitar o sentimento da velhice e a sensação d e decadência, mantendo-se otimistas: “uma boa risada fá-lo dez anos mais novo, a preocupação faz a sua cabeça ficar cinzenta”; “a raiva apressa o envelhecimento, uma gargalhada rejuvenesce”.

Observar as Regras da Natureza e seguir os Costumes
Isto significa agir de acordo com as condições objectivas, compreender a realidade, encarar os fatos ativamente e ser bom na adaptação aos ambientes, às condições gerais da vida quotidiana e aos hábitos e estilo de vida do dia-a-dia. Entre outras coisas, “ observar as regras da natureza em tudo o que se faz, sem avidez, falta de repouso ou arrogância”; e “deixar nas mãos do destino a sua longevidade ou morte prematura, os seus ganhos e perdas” (Dez Livros de Dongyuan, publicado em 1529). Quando surgem mudanças drásticas nas condições ou estilo de vida, ou nas circunstâncias ambientais, não nos devemos sentir ansiosos, vexados, deprimidos ou ressentidos, mas prontamente adaptar os pensamentos às novas condições objectivas, “fazendo as coisas que podem ser feitas uma a uma e poupando energia nas que não podem ser feitas”, tentando sempre encontrar alegrias frescas nas novas situações.
Em conclusão, e como refere o Capítulo 1 das “Questões Simples”, “viver confortavelmente no seu ambiente natural, observar as regras dos ventos que sopram, adaptar-se aos costumes correntes na dieta e no dia-a-dia, ser livre de emoções como a raiva e comportar-se de acordo com a realidade”.

Regular as Sete Emoções
Regular as Sete Emoções: alegria, raiva, melancolia, preocupação, mágoa medo e terror. Isto significa manter as actividades emocionais num nível moderado através da sua expressão de forma moderada e do seu redireccionamento.

Expressar as emoções: as mudanças emocionais são parte das atividades fisiológicas do corpo humano como um todo. Assim, para manter as mudanças emocionais em harmonia e unidade com as atividades funcionais do organismo é necessário expressá-las moderadamente de tempos a tempos.
Como disse Fei Boxiong, da Dinastia Qing, “Alegria, raiva, melancolia, preocupação, tristeza, medo e terror são comuns a todos. Expressá-las, tal como é requerido pelas situações, é o significado de expressar as emoções adequadamente”. De outra forma é impossível ao homem adaptar-se às condições externas em constante mudança ou atingir um estado de equilíbrio emocional, necessariamente dinâmico.
Assim, a ideia de disfarçar a alegria e a raiva, a partir do momento em que fizeram a sua aparição na mente, é indesejável. Investigações recentes revelaram que a subida da pressão arterial nos estados de cólera é um processo normal. A sua expressão relaxa a tensão e normaliza a pressão. Se esta emoção é recalcada e não expressa durante longo tempo a tensão não é relaxada e a pressão arterial elevada pode-se tornar crónica, originando um quadro de hipertensão. Da mesma forma, é fisiologicamente normal e benéfico chorar lágrimas amargas numa situação de tristeza. Não o fazer pode criar graves desequilíbrios psicológicos e fisiológicos. Em nenhum caso se deve fechar à força a porta das emoções.

Redireccionar as emoções: apesar de ser do senso comum que se devem evitar os excessos emocionais, estímulos ambientais violentos, persistentes e muitas vezes inevitáveis podem provocar emoções que, pela sua intensidade, colocam em perigo a estabilidade psicológica e a saúde física.
Por isso é necessário retificar as emoções excessivas através do seu redireccionamento a tempo. Com base na teoria dos cincos elementos, em constante interação e relacionados, cada um deles, com uma emoção específica, a MTC concebeu o método de “controlar uma emoção com outra” para rectificar as emoções em excesso. Concretamente, “a tristeza restringe a cólera, o medo restringe a euforia, a raiva restringe a preocupação, a alegria restringe a tristeza”. Apesar de simples, este sistema é efectivo e útil na educação, nas relações interpessoais e na vida psicológica individual, podendo ser usado para controlar os excessos emocionais e assim prevenir a doença.
Quando ocorrem factores como a morte dum membro da família ou a ruptura unilateral duma relação amorosa da qual uma das partes não se liberta, é necessário redireccionar as atenções para outras coisas de forma a encontrar o prazer e recuperar o equilíbrio mental. Isto está em conformidade com o método da MTC de “controlar uma emoção com outra”.

Adaptado de “Health Preservation and Rehabilitation”, Publishing House of Shanghai College of Traditional Chinese Medicine por Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa - Lisboa

Fotografia de Thomas Barwick

1 comentários:

Paulo Borges disse...

Um imperativo de sempre, sobretudo necessário nos tempos que vivemos. A meditação é a chave da transformação de si e do mundo.

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