terça-feira, março 23

A abordagem da Medicina Tradicional Chinesa à depressão

Dentro da nossa parceria com a ESMTC (Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa), o Outro contactou a escola, no sentido de compreender melhor que abordagem é que esta medicina tem para com a depressão, uma vez que se trata de uma condição que está a aumentar na nossa sociedade. Entrevistámos a Professora Mei Lu, licenciada em Medicina Tradicional Chinesa desde 1995 e doutorada pela Universidade de Medicina Chinesa de Nanjing, com o tema de doutoramento “Investigação sobre a combinação de acupunctura e SSRIs* no tratamento da depressão”. É docente e dá consultas na Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa, desde 2005.

*SSRIs – Selective Serotonin Reuptake Inhibitors (Inibidores Selectivos de Recaptação de Serotonina)

Outro: Como é que a Medicina Tradicional Chinesa (MTC) define a depressão?

Prof. Mei Lu: Depressão é um termo moderno que não fazia parte da MTC, mas os sintomas da depressão aparecem descritos nos Clássicos em diferentes doenças como: síndrome Dian, Síndrome de Lily, Zang Zao, etc. De acordo com a MTC a principal patofisiologia relaciona-se com alterações de Qi envolvendo os órgãos Zang (Fígado, Coração, Baço, Pulmão e Rim) e o Cérebro que se manifesta como humor depressivo, óbvio e de longa duração.
Existem diferentes diagnósticos de depressão de acordo com a severidade da doença na medicina moderna: depressão major, depressão minor, estado depressivo. O diagnóstico obedece a critérios definidos. A Medicina Tradicional Chinesa define o tratamento de acordo com os diferentes estadios da doença e a constituição do paciente que correspondem a síndromes diferentes de acordo com a MTC.

De que forma podemos tratar esses sintomas e quais os tratamentos recomendados pela MTC? O tratamento é igual para todos?

Relacionando a depressão com alterações de Qi envolvendo órgãos zang e o cérebro um princípio básico será suavizar o Qi do Fígado , regularizar o qi e “ajustar a mente”.
Mas como foi dito anteriormente a MTC faz uma diferenciação de síndromes definindo o tratamento de acordo com esta diferenciação. Por exemplo, se se tratar de um caso em que a depressão está associada a uma deficiência em simultâneo do Baço e do Coração será necessário fortalecer o Baço e reforçar o Coração. Constata-se assim que o tratamento não será o mesmo para todos pois as manifestações podem diferir correspondendo a diferentes síndromes.
A MTC recomenda principalmente o tratamento com plantas e acupunctura. Na China há muito tratamentos que combinam estas duas abordagens para o tratamento da depressão.

Existem algumas recomendações nutricionais?

Existem muitos tratamentos com fórmulas de plantas que podem ser aplicados a pacientes com depressão, de acordo com as diferentes síndromes que apresentam. São tratamentos que pressupõem nutrir o sangue e mover o qi do fígado, por exemplo.
Na situação de doença os aspectos nutricionais devem sempre ser levados em conta pois devemos entender a dietética como uma terapia. As necessidades nutricionais diferem de acordo com a condição do paciente.

Uma pessoa que esteja a tomar anti-depressivos pode/deve deixar de os tomar?

Ajustar a dose de antidepressivos deve ser sempre feito sob o controlo de um psiquiatra, o que não impede que a pessoa que toma antidepressivos possa receber, em simultâneo, tratamentos de MTC. Na China há muitos investigadores que estudam a o tratamento combinado de antidepressivos e plantas, e de antidepressivos e acupunctura.

Quais os benefícios para a pessoa com depressão em comparação com os tratamentos alopáticos (antidepressivos)?

Estudos efectuados revelam que o tratamento com plantas e com acupunctura pode melhorar a ansiedade, os sintomas somáticos e as desordens do sono. O efeito desses tratamentos, de acordo com muitos investigadores, é mais eficaz no tratamentos desses sintomas do que quando são usados apenas antidepressivos. A combinação de plantas e acupunctura pode efectivamente controlar os sintomas/efeitos secundários dos antidepressivos e dessa forma levar à redução dos antidepressivos.

O médico de MTC recomenda a utilização da psicoterapia, em paralelo com os tratamentos mencionados?

O Especialista de MTC deve ter conhecimentos de Psicologia que lhe permitam fazer o acompanhamento do paciente uma vez que este deve ser entendido como um todo físico e mental mas, como é do conhecimento geral, existem terapias específicas individuais e de grupo que devem ser acompanhadas pelos profissionais nelas especializados e os pacientes tem o direito à escolha e à decisão podendo fazer diferentes terapias em simultâneo.

Quais os resultados que a pessoa com depressão pode esperar e em que prazo? Quantas sessões são necessárias?

O efeito do tratamento pode ser sentido ao fim de 2 a 3 sessões, tendo em conta as Escalas de Avaliação de sintomas, mas não é possível definir um tempo exacto para que se consiga uma estabilização dos resultados de forma a prevenir a recaída considerando-se em média 2 a 3 cursos de tratamento, o que corresponde a 20 ou 30 sessões.

Existem estatísticas sobre recaídas no caso do tratamento com MTC?

Este é um tema ao qual tem sido prestada atenção muito recentemente pelo que, existindo vários trabalhos realizados não existem dados publicados que possam ser considerados estatisticamente significativos.

A ESMTC também dá consultas? Quais os horários?

A ESMTC dá consultas de MTC de 2ª a 5ª, das 15h00 às 19h00, com equipas de estagiários e especialistas formados pela Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa de Lisboa e pela Universidade de Medicina Chinesa de Nanjing.

Sabe indicar-me médicos de MTC noutros pontos do país?

Hoje em dia já há alguns especialistas em MTC a exercerem em vários pontos do país. É importante e necessário o paciente certificar-se das habilitações desse especialista, isto é, o paciente não deve nunca iniciar uma consulta sem se certificar de que o especialista que está à sua frente tem formação adequada e pertence a uma Associação Profissional.

Fotografia: Terry Vine

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