segunda-feira, março 1

Meditação por receita: novo remédio para a depressão


As técnicas de meditação devem ser disponibilizadas a todos por receita médica, dizem hoje os especialistas, referindo a evidência de que esvaziar a mente ajuda mais as pessoas a sair dos ciclos de depressões recorrentes do que comprimidos. Para alguns, a meditação pode evocar imagens de cantos budistas ou dos Beatles cobertos de flores durante o seu período de devoção ao Maharishi Mahesh Yogi, mas hoje é uma associação de saúde mental sem fins lucrativos que está a lançar uma campanha para conseguir que cursos de "mindfulness" (esvaziar a mente) sejam disponibilizados através do Sistema Nacional de Saúde.

Os resultados em pessoas com depressão são impressionantes e podem poupar muito dinheiro ao Sistema Nacional de Saúde, de acordo com a Fundação para a Saúde Mental.


Os antidepressivos oferecem às pessoas que sofrem com este estado uma espécie de evasão química do seu desespero. Pode ajudá-las a atravessar uma crise, mas há o risco da depressão voltar, tal como era antes de começarem a tomar os comprimidos. A terapia de comportamento cognitivo é o tratamento mais receitado e disponível.

Encoraja uma pessoa deprimida a reflectir sobre os seus sentimentos e comportamento, sobre as causas e sobre estratégias para lidar com os mesmos. Funciona, mas é utilizada para tratamento e não para prevenção.

"Mindfulness" é descrita pelo relatório da Fundação para a Saúde Mental publicado hoje, como "uma forma de dar atenção ao momento presente, usando a meditação, yoga e técnicas de respiração". Em vez de ficarem imersos nos seus problemas, as pessoas são ensinadas a esvaziar as suas mentes, concentrando-se na respiração ou em partes do seu corpo ou nos movimentos do yoga e a aperceberem-se, sem os explorar ou investigar, os pensamentos que circulam pela mente, que "cria espaço para que possamos tomar decisões mais reflectidas sobre como responder aos acontecimentos na nossa vida", diz o relatório.

Em 2004, o National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE-Instituto Nacional para a Saúde e Excelência Clínica) recomendou cursos de terapia cognitiva baseados em meditação para pessoas que tinham sofrido de depressão pelo menos três vezes. Em dois ensaios clínicos, a aprendizagem da meditação diminuiu para metade o número de pessoas que sofriam recaídas ‑ no primeiro ensaio, há dez anos, de 66% para 37% e, no segundo ensaio, em 2004, de 78% para 36%. Mas apesar do aval do NICE, apenas 1 em cada 5 psiquiatras tem acesso a um curso desses onde possa colocar os seus pacientes, apesar de 72% acharem que seria uma boa ideia.

A depressão afecta uma em cada dez pessoas (no Reino Unido) e custa à economia anualmente 7.5 biliões de libras, diz a Fundação. O número de receitas de antidepressivos duplicou numa década, atingindo 36m em 2008. E no entanto, 75% dos psiquiatras dizem que receitaram medicamentos a pacientes, que os médicos acreditam poderem beneficiar de outros métodos.

"A terapia baseada na meditação pode ajudar a prevenir que milhares de pessoas tenham novas depressões todos os anos," diz o Dr. Andrew McCulloch, Director-Geral da Fundação para a Saúde Mental. "Teria enormes benefícios sociais e económicos, sendo sensato torná-lo um tratamento disponível pelo Sistema Nacional de Saúde."

O Dr. Jonty Heaversedge, um psiquiatra do sul de Londres e um dos BBC's Street Doctors, diz que ele próprio procurou um centro budista para aprender a meditar e gerir o seu próprio stress, mas sentiu-se desconfortável a recomendá-lo aos seus pacientes, com receio de que eles pensassem que ele estava a promover alguma religião.

Tem pacientes que entram em depressão todos os invernos. Não só a formação em meditação os ajudaria, acredita ele, mas também a todos nós, que sofremos de stress, excesso de trabalho, problemas nos nossos relacionamentos e vivendo com pressa todos os aspectos da nossa vida.

Fotografia: Glowimages

1 comentários:

Paulo Borges disse...

Costumo insistir que a meditação não consiste propriamente em "esvaziar a mente", porque querer esvaziá-la é ainda enchê-la... Isto é positivo, embora a meditação seja mais do que uma terapia: uma forma de auto-conhecimento por experiência directa da natureza da mente.

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